Religião Asatruar: Uma religião humanística de fato
Em tempos de Cristianismo Pentecostal, Capitalismo Selvagem, Neo-Nazismo, a prática de uma religião ancestral de tempos imemoriais soa como algo na contramão dentro das atuais correntes. A obscuridade do futuro humano em eras nebulosas como a nossa, mexe a com a imaginação humana e com isso, nos leva a refletir sobre nossa própria natureza.
A razão humana, descoberta pelos gregos na antiguidade, e readaptada na era moderna a fim de moldar a natureza humana aos apelos do Capitalismo, chega ao seu limite nesse adentrar do século XXI, reduzindo a complexa natureza humana à lógica simplista da máquina. O ser humano, preso as estrutura pré-moldadas pelo sistema, começa a ver sua natureza se esvair na mecanicidade do dia-a-dia e vai em busca de outras respostas, frente a vida semi-robótica em qual se encontra. Eis então uma busca por algo diferente, nisso lança um olhar ao passado e se reencontra com as religiões ancestrais, até esquecidas ou suprimidas pelo culto cristão.
Na crise do pensamento ocidental racional moderno, a busca por religiões não institucionais e ancestrais foi uma alternativa viável e por assim dizer, necessária. Isso não significa que a religiosidade ancestral irracional, muito pelo contrário, ela se torna uma alternativa racional viável e palpável, em contraponto abstração religiosa cristã-ocidental, que por mais que tenha sistemas e dogmas peculiares, estas estão ainda ligadas a tradições seculares baseadas em intolerância e subserviência.
Então surge a Asatru, em meados da década de 60, numa época marcada por desilusões políticas, e em meio às ameaças nucleares. A Asatru se constitui de religião ancestral, e como toda religião ancestral, está intimamente ligada à natureza. Essa ligação com a natureza representa, em termos simbólicos, a união humana ao meio natural, refazendo uma antiga relação, a muito perdida. Eis a busca daqueles que procuram a prática da Asatru: fazer parte da grandiosidade do universo, estando conectado intimamente a ele, algo que foi negado ao ser humano durante séculos.
A principal característica da religião Asatruar é uma nova forma de conceber a natureza, o homem e o universo. Ou melhor, uma prática que de fato não é nova, sim antiga, muito antiga. Os antigos germanos e escandinavos não possuíam uma separação formal entre os mundos, e nem entre vida e religião. Não haviam dogmas a serem seguidos e nem regras pré-fixadas. A relação com o divino entre estes povos se baseava na reciprocidade, uma troca constante entre homem e natureza, natureza essa refletida nos deuses, constituindo a harmonia do ser humano com todos os elementos naturais em seu entorno. Logo, a Asatru reconstrói a ligação entre o homem e o divino em sua amplitude, de forma integral, participativa, e para isso, refaz os caminhos dos antigos, e trilha novos no século XXI.
Tendo em vista a realidade contemporânea, os asatruares se vêem inseridos em um mundo completamente diverso àquele dos antigos nórdicos. O modo de vida rural e comunitário agora é uma simples lembrança saudosa, as grandes viagens e sagas beiram a meros contos mitológicos. Essa desilusão foi transformada em esperança. Em meio ao modo industrial, da abstração do trabalho fabril, do individualismo exacerbado, renasce das cinzas a crença em deuses, até então esquecidos, e neste momento histórico humano, os deuses ressurgem não apenas como seres supremos, portadores de poderes especiais, e sim como símbolos de uma libertação de uma opressão robótica, instaurada pela era industrial, e principalmente.
Finalizando este conjunto de idéias, em uma conclusão bastante pessoal, porém, embasada nas leituras e trocas de idéias constantes com as praticantes, vejo uma tentativa de tornar o homem mais humano de fato, num esforço de buscar dentro da religião Asatru uma característica humana, que é o ser social, que não vive isolado. O ser humano tem sua individualidade, mas não pode viver só, pois é da natureza social humana, construída através dos milênios, e negar isso seria um erro. E a Asatru conseguiu isso reconstruindo um passado com olhos no futuro.
Prof. Fábio Beilfuss